Acima apenas Algarobas. Sim, uma árvore comum, muito presente no Nordeste em função de sua utilização para a alimentação dos animais em períodos de estiagem.
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
A coragem de ser parcial
Faz três anos que uma matéria de uma jornalista no site Comunique-se (leitura obrigatória para os profissonais da comunicação) me despertou a atenção. Primeiro, apenas com título, houve uma identificação imediata. Após a leitura do texto, percebi o quão perigosa e injusta é a composição das palavras "jornalismo imparcial". Ora, o paradoxo da imparcialidade se resume à hipocrisia recheada de falsos conceitos. Desde de muito cedo percebi a diferença entre o jornalismo verdadeiro, que se traduz no ato de reportar, de informar fatos, acontecimentos, e o jornalismo mascarado, que esconde suas intenções desonestas por trás do véu da "imparcialidade". Aliás, é importante destacar que toda produção humana possui, na sua essência, a visão, o estilo ou qualquer outra característica intrínseca ao autor. É fato e é natural. Cabe apenas a utilização do bom senso e da ética para não haver a distorção dos fatos que, vez ou outra, desprestigia a nossa classe perante o nosso maior bem: o público.
Bom, não quero falar muito, quero apenas apresentar a vocês esse texto que é da admirável Elaine Tavares - e se é de pessoas como Urda que o mundo precisa, então aqui estou neste espaço, entregando "ao mundo" as minhas idéias, as minhas convicções.
Elaine Tavares (*)
"E então é assim pessoal. Ó, presta a atenção! Quando tu és uma jornalista e tens uma posição clara, que tu fazes questão de deixar clara - para que teus leitores saibam de onde tu estás falando, de que lugar epistemológico, de que espaço geográfico, de que postura política - é porque tu és parcial. É porque tu és uma péssima profissional, que não aprendeu nas escolas de jornalismo que é preciso ser “neutra e imparcial”. E aí chovem as críticas, feitas inclusive, pasmem (!?) por professores de jornalismo. Gente que, não sem interesses determinados e também parciais, insistem nesses conceitos impostores. E pior, há veículos de imprensa que, se apresentando à sociedade como “neutros e imparciais”, calam, censuram e impedem que vozes parciais, honestas, corajosas e verdadeiramente anti-sistêmicas, possam circular.
É um paradoxo!! Mas, facilmente entendível. Estou falando do que aconteceu com a escritora Urda Klueger, cronista do jornal Diário Catarinense, em Florianópolis, Santa Catarina. Ela não é jornalista, mas ocupava uma coluna no jornal, justamente uma coluna de opinião, onde, supostamente, ela poderia falar a sua opinião. Os leitores, que não são ignorantes, sabem que, historicamente, uma coluna de opinião é, obviamente, de opinião. Pois ela, dia desses, decidiu falar sobre o massacre, o genocídio, a que está submetido o povo palestino. Contou uma história, falou seu pensar.
Como todo texto polêmico, esse recebeu uma carta de uma leitora, Heloísa Herscovitz, professora do Cursos de Jornalismo da UFSC, praticamente dizendo que ela não poderia externar seu pensamento daquela forma, acusando-a de anti-semitismo e ignorância. A carta foi publicada e Urda voltou a falar do tema na sua coluna, exercendo seu direito ao debate livre e libertário. Pois, essa única carta, provocou uma revolução dentro do jornal e a escritora foi “orientada” a não falar mais sobre o assunto “palestinos”. Coisa estranha, né? Só que a Urda nunca foi mulher de agir como cordeiro. Ela disse não! Ela tinha feito um acerto com o jornal de que escreveria o que escreve, carregada de suas convicções. Não iria contemporizar agora. Urda preferiu mandar às favas o DC a abrir mão de seus princípios.
Urda é mulher guerreira, de Blumenau, que desde menininha aprendeu a ver o mundo a partir da vítima. Urda tem a coragem de falar dos negros, dos pobres, dos desgraçados, dos malditos, dos que estão à margem. Urda não se limita a falar de festas, de feijoadas, das viagens da senhora ninguém, que tem gordas contas bancárias. Urda tem idéias, tem princípios, tem sonhos de mundo digno. Urda caminha com os excluídos, com os desvalidos. Urda comunga com eles. Urda fala deles, com eles. Urda é uma dessas loucas, mariazinhas do passo errado, que, quando todos seguem pelo caminho do rebanho, desvia, questiona, subverte.
Urda foi censurada, calada no direito de dizer sua palavra. Urda foi punida por falar do massacre, da vergonha, do terrorismo do Estado de Israel. Na tal carta, a professora de jornalismo diz que Urda não falou dos terroristas que matam pessoas, que só olha um determinado lado. É, Urda, esquecestes mesmo de falar dos homens e mulheres-bomba, que se imolam porque entendem que, às vezes, é melhor morrer que viver na dor. Mas Urda não esqueceu de falar que os palestinos se defendem. Que os palestinos lutam com pedras e estraçalham seus corpos numa desesperada reação. Enquanto Israel ataca com canhões e toda a sorte de armamento de última geração, patrocinado pelos Estados Unidos. Diz a professora, que escreveu para o DC criticando a Urda, que Israel não tem petróleo, por isso, dizer que os EUA têm algo a ver com isso, é bobagem de teorias conspiratórias. A colega não sabe que Israel é a porta de entrada do Oriente Médio? Que ocupa um papel estratégico naquela região? Uma boa jornalista deveria conhecer a geopolítica, mas, enfim... talvez ela seja neutra demais, imparcial demais...
Já Urda, essa louca, sabe. E tem posição sobre isso. Jamais se esconderia por trás de uma capa de neutralidade porque sabe, também, que nada é neutro, nem o sabão OMO. O fato é que foi calada, como são calados todos aqueles que, a despeito de tudo, gritam que o rei está nu. Está certo. As pessoas podem fingir não ver, as pessoas podem acreditar no que quiserem... mas os que vêem não podem ignorar. Urda vê e diz. E que bom que seja assim. Tu que lês o que Urda vê, sabe o que ela defende. Podes discordar até. Agora, e o DC, que se diz neutro, imparcial e democrático? Ele diz que é assim, mas censura, impede a fala, demite. Em quem é melhor a gente confiar? Nos que não escondem sua parcialidade, os que sabemos muito bem o que pensam e no que acreditam ou nos que fingem imparcialidade? É, a gente sabe em quem confiar.
Pois agora é hora de a gente se solidarizar com Urda e dizer a ela que siga firme, com suas convicções, seus princípios, seu compromisso de estar com as vítimas. É de gente assim que precisamos no mundo."
(*) Jornalista
6/23/2004
Bom, não quero falar muito, quero apenas apresentar a vocês esse texto que é da admirável Elaine Tavares - e se é de pessoas como Urda que o mundo precisa, então aqui estou neste espaço, entregando "ao mundo" as minhas idéias, as minhas convicções.
Elaine Tavares (*)
"E então é assim pessoal. Ó, presta a atenção! Quando tu és uma jornalista e tens uma posição clara, que tu fazes questão de deixar clara - para que teus leitores saibam de onde tu estás falando, de que lugar epistemológico, de que espaço geográfico, de que postura política - é porque tu és parcial. É porque tu és uma péssima profissional, que não aprendeu nas escolas de jornalismo que é preciso ser “neutra e imparcial”. E aí chovem as críticas, feitas inclusive, pasmem (!?) por professores de jornalismo. Gente que, não sem interesses determinados e também parciais, insistem nesses conceitos impostores. E pior, há veículos de imprensa que, se apresentando à sociedade como “neutros e imparciais”, calam, censuram e impedem que vozes parciais, honestas, corajosas e verdadeiramente anti-sistêmicas, possam circular.
É um paradoxo!! Mas, facilmente entendível. Estou falando do que aconteceu com a escritora Urda Klueger, cronista do jornal Diário Catarinense, em Florianópolis, Santa Catarina. Ela não é jornalista, mas ocupava uma coluna no jornal, justamente uma coluna de opinião, onde, supostamente, ela poderia falar a sua opinião. Os leitores, que não são ignorantes, sabem que, historicamente, uma coluna de opinião é, obviamente, de opinião. Pois ela, dia desses, decidiu falar sobre o massacre, o genocídio, a que está submetido o povo palestino. Contou uma história, falou seu pensar.
Como todo texto polêmico, esse recebeu uma carta de uma leitora, Heloísa Herscovitz, professora do Cursos de Jornalismo da UFSC, praticamente dizendo que ela não poderia externar seu pensamento daquela forma, acusando-a de anti-semitismo e ignorância. A carta foi publicada e Urda voltou a falar do tema na sua coluna, exercendo seu direito ao debate livre e libertário. Pois, essa única carta, provocou uma revolução dentro do jornal e a escritora foi “orientada” a não falar mais sobre o assunto “palestinos”. Coisa estranha, né? Só que a Urda nunca foi mulher de agir como cordeiro. Ela disse não! Ela tinha feito um acerto com o jornal de que escreveria o que escreve, carregada de suas convicções. Não iria contemporizar agora. Urda preferiu mandar às favas o DC a abrir mão de seus princípios.
Urda é mulher guerreira, de Blumenau, que desde menininha aprendeu a ver o mundo a partir da vítima. Urda tem a coragem de falar dos negros, dos pobres, dos desgraçados, dos malditos, dos que estão à margem. Urda não se limita a falar de festas, de feijoadas, das viagens da senhora ninguém, que tem gordas contas bancárias. Urda tem idéias, tem princípios, tem sonhos de mundo digno. Urda caminha com os excluídos, com os desvalidos. Urda comunga com eles. Urda fala deles, com eles. Urda é uma dessas loucas, mariazinhas do passo errado, que, quando todos seguem pelo caminho do rebanho, desvia, questiona, subverte.
Urda foi censurada, calada no direito de dizer sua palavra. Urda foi punida por falar do massacre, da vergonha, do terrorismo do Estado de Israel. Na tal carta, a professora de jornalismo diz que Urda não falou dos terroristas que matam pessoas, que só olha um determinado lado. É, Urda, esquecestes mesmo de falar dos homens e mulheres-bomba, que se imolam porque entendem que, às vezes, é melhor morrer que viver na dor. Mas Urda não esqueceu de falar que os palestinos se defendem. Que os palestinos lutam com pedras e estraçalham seus corpos numa desesperada reação. Enquanto Israel ataca com canhões e toda a sorte de armamento de última geração, patrocinado pelos Estados Unidos. Diz a professora, que escreveu para o DC criticando a Urda, que Israel não tem petróleo, por isso, dizer que os EUA têm algo a ver com isso, é bobagem de teorias conspiratórias. A colega não sabe que Israel é a porta de entrada do Oriente Médio? Que ocupa um papel estratégico naquela região? Uma boa jornalista deveria conhecer a geopolítica, mas, enfim... talvez ela seja neutra demais, imparcial demais...
Já Urda, essa louca, sabe. E tem posição sobre isso. Jamais se esconderia por trás de uma capa de neutralidade porque sabe, também, que nada é neutro, nem o sabão OMO. O fato é que foi calada, como são calados todos aqueles que, a despeito de tudo, gritam que o rei está nu. Está certo. As pessoas podem fingir não ver, as pessoas podem acreditar no que quiserem... mas os que vêem não podem ignorar. Urda vê e diz. E que bom que seja assim. Tu que lês o que Urda vê, sabe o que ela defende. Podes discordar até. Agora, e o DC, que se diz neutro, imparcial e democrático? Ele diz que é assim, mas censura, impede a fala, demite. Em quem é melhor a gente confiar? Nos que não escondem sua parcialidade, os que sabemos muito bem o que pensam e no que acreditam ou nos que fingem imparcialidade? É, a gente sabe em quem confiar.
Pois agora é hora de a gente se solidarizar com Urda e dizer a ela que siga firme, com suas convicções, seus princípios, seu compromisso de estar com as vítimas. É de gente assim que precisamos no mundo."
(*) Jornalista
6/23/2004
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