terça-feira, 30 de outubro de 2007

A coletiva






Usando uma camisa vermelha com um broche-estrela no canto de um bolso, do lado esquerdo do peito, transmitia, assim, a sua ideologia político-partidária. Foi desta forma que Bráulio Wanderley se apresentou na entrevista coletiva concedida a alunos de Jornalismo da Universidade do Estado da Bahia – UNEB.
Apesar de em seus trinta anos de idade, Bráulio Wanderley já acumula dezessete anos de militância esquerdista. Antes de se filiar ao PT, pertencia ao PCdoB em Jaboatão dos Guararapes. Ainda estudante, ocupou posições de liderança entre as entidades estudantis. Formou-se em História e é pós-graduado também em Geografia – ambas pela Universidade de Pernambuco - UPE. Em 2003, mudou-se para Petrolina. Atualmente é estudante de Direito e há dois anos dirige o Sindicato dos Professores de Pernambuco (SINPRO, após batalhar junto aos movimentos sindicais docente.

A entrevista coletiva surgiu como uma proposta dos jornalistas e professores da área Teresa Leonel e Giovanne Serqueira, para que os alunos da faculdade que ainda não se depararam com esse tipo de experiência, tenham uma oportunidade de trabalhar a prática jornalística. Naquela tarde de calor do dia 09 de Outubro, em Juazeiro - BA, foram discutidos diversos temas do domínio de Bráulio Wanderley, como o atual governo de Lula, os escândalos envolvendo o PT, a política regional do Vale do São Francisco, entre outros.


O ASSUNTO...

Não poderiam deixar de debater sobre a crise política em que se encontra o PT e o atual cenário da política brasileira. Este foi o assunto mais preponderante durante as quatro horas de entrevista com Bráulio Wanderley. Questionado sobre a utilização do Programa Bolsa família para fins marqueteiros e eleitorais, Wanderley assume que sim: Lula se beneficia nas épocas de campanha. O entrevistado adverte que o programa possui ação anti-educativa social, a partir do momento em que “recompensa” um lar pela quantidade de crianças na escola. “Vicia, devia ser provisória (a política pública). Está estimulando uma indústria de criança e ainda tem pessoas que colocam a criança para pedir esmola!”, alerta Wanderley. Depois dos escândalos no Governo de Lula, como pensar o novo PT? Para o entrevistado, “o PT é muito São Paulo”. Ele analisa que, com José Dirceu presidindo o partido, o PT apresentou linhas institucionais (e alianças) perigosas para a sua ideologia. E esse foi, para ele, o maior erro do PT: “Errou em cobrar a ética e passar a idéia de era detentor desses princípios. A ética é um exercício individual. Não se pode garantí-la pelo coletivo”. Por falar em ética, Wanderley foi categórico ao defender sua posição acerca das discussões sobre a imunidade parlamentar: “Pra mim não é imunidade parlamentar. É impunidade parlamentar”.
A respeito da fidelidade partidária, Wanderley afirma veemente que “um político que não é fiel às convicções do partido ao qual pertence, não merece a confiança do povo”.


MOVIMENTOS ESTUDANTIS
“Meu primeiro desafio: sair do movimento secundarista para o universitário”, lembra Wanderley . Ele destaca a diferença entre política do movimento estudantil e agremiações com extensão partidária: “A maioria segue as ideologias dos partidos, ou como simpatizantes ou como filiados. Cada qual segue uma linha política, uma orientação. Na verdade, isso vai desde o aspecto geral até o aspecto específico. Minha opinião sincera: um complicador é quando a pessoa que entra no movimento estudantil quer fazer uma extensão do partido” As relações entre as diferentes classes estudantis são abordadas conforme as próprias experiências de Wanderley , que com apenas treze anos começou na militância da esquerda socialista e nos movimentos secundaristas. O entrevistado sugere que os estudantes não devem resumir os interesses da categoria à confecção das carteirinhas de estudante, como vem acontecendo: “Isso enfraquece o movimento estudantil, que se despolitizou.” Em meio a isso, Wanderley analisa o surgimento de uma “categoria de cargos” dentro da militância, que se estende a outros movimentos.


MESSIANISMO OU PATIDARISMO?
Wanderley também analisa o cenário político de Juazeiro e Petrolina, duas cidades estratégicas da fronteira Bahia-Pernambuco. Qual o desenho para as eleições 2008?
O entrevistado argumenta que o PT deveria lançar um candidato próprio para as próximas eleições. E critica a postura do eleitorado juazeirense: “Um exemplo bem claro é Juazeiro. Ou ama ou odeia Joseph... Misael... Juazeiro faz uma campanha mais messiânica que ideológica. Não se fala de partido!” O que Wanderley explica é que o eleitor juazeirense, petrolinense, brasileiro (pois, para ele, é “um mal que a sociedade brasileira vive”) baseia a política sobre as pessoas e não sobre os projetos partidários.

Mas agora, fica a pergunta: será que ainda podemos acreditar em projetos partidários depois do que estamos presenciando?





Um comentário:

Anônimo disse...

Pamela,
Fiz algumas considerações em relação a coletiva e vou passar para o seu e-mail. ok? Junto vai a nota.
Abs,
Teresa