As formas de interação na nossa sociedade que desempenham o papel de conectar, de interligar, de aproximar diferentes situações já estavam sendo desenvolvidas por inúmeros meios, como o fax, a carta, o telefone, contatos diversos. Um cenário que, de acordo com o doutorando em Ciências da Comunicação Juciano Lacerda, pode ser incrementado pela democratização digital no nosso contexto de rápida evolução tecnológica. Isto não se refere especificamente à “democratização digital” tão comentada aqui no Brasil, a alusão diz respeito às redes de solidariedade digital que antecederam até mesmo o formato atual das redes digitais, no campo de vários setores da organização social – parcela importante das organizações não-governamentais já se articulava em rede antes mesmo da popularização desta, por exemplo.
Um modo de interagir, mediar, provocar mudanças nas relações entre os indivíduos é o que caracterizaria as redes de solidariedade digital. Também uma nova maneira de pensar e atuar no ciberespaço, gerando contribuições de uso social e “uma redefinição dos modos de comunicação já culturalmente estabelecidos na rede”, como define Lacerda. Mas será que fazemos parte de uma geração preparada a assumir outra postura na web? O cenário é negativo... A internet se constituiu como reforço do mercado capitalista, das fusões entre corporações da mídia de massa, ao passo que também serve para veicular informações de ideologias populares. Onde encontrar o alicerce dessa balança? O jornalismo pode ser uma opção. No balanço entre as visões mercadológica e social da convergência midiática e da comunicação digital (que inclui a atividade jornalística), o elemento transformador poderá ser o próprio jornalismo, com foco nas contribuições de uso social.
As novas tecnologias da informação e as contribuições da América Latina para a emergência da Sociedade da Informação são temas de estudo do conceituado pesquisador Lacerda, que ressalta “a relação entre os usos econômicos e sociais das tecnologias, seus desequilíbrios e tensões”. Prova da contradição é a inversão de valores, já observada pelo estudioso Jesús Martín-Barbero, citado por Lacerda: a sociedade de mercado é posta como requisito de entrada à Sociedade da Informação, de maneira que a racionalidade da modernização neoliberal substitui os projetos de emancipação social pelas lógicas de uma competitividade cujas regras já não são postas pelo Estado, mas pelo mercado, convertido em princípio organizador da sociedade em seu conjunto. É insensato, mas está funcionando desta forma. Uma família de baixa renda em qualquer canto do Brasil, que mal tem como se alimentar dignamente (sem falar da educação, do trabalho, da moradia,...), está a léguas de distância em usufruir a tecnologia digital. O nosso país privilegia o acesso individual (indo na direção dos grandes provedores de conteúdo que conhecemos bem), apresentando mais um atraso. E ainda se gaba pela condição de possuir o maior crescimento de internautas do continente! Como ter orgulho de uma cultura de universalização da informática atrasada em termos de cidadania? Menos de 18% da população brasileira teria acesso à internet, de acordo com o consórcio IBGE/Fundação Getúlio Vargas de 2005. Isso representa, em números, 147.396.185 excluídos. Neste final de 2007, esses números se alteraram, mas continua expressiva a grande exclusão digital no Brasil.
Saindo do individual para o coletivo, poderiam ser adotadas políticas públicas para experiências coletivas. É isso mesmo, não tem como estimular a aquisição de um computador individual num lar que se mantém com um salário mínimo. Por isso as lan houses caíram no gosto popular do brasileiro, apesar de cobrarem em média dois reais por uma hora de acesso à rede. O nosso vizinho Peru dá o exemplo dos Telecentros ou Cabinas Públicas de acesso à internet, onde a maioria dos usuários se conectam à rede desta forma, por um valor bem mais baixo do que existe aqui com as lan houses – em muitos lugares esse acesso é gratuito. Na Bolívia também é assim, com as empresas populares de internet. Poderíamos trabalhar com parcerias entre associações, ONGs, empresas com responsabilidade social, como acontece no Peru. Lá, outro exemplo de luta pela democratização e o direito à informação foi a experiência da Coordenadoria Nacional de Rádios (CNR) na luta contra a ditadura de Alberto Fujimori. A CNR utilizou a internet para instigar o povo a reagir, se mobilizar. Todos os dias eram colocados na rede notícias, comentários, entrevistas, informação livre, articulando lideranças e pessoas por meio da comunicação digital, com ampla repercussão. Sem dúvida, um jornalismo comprometido com seu verdadeiro papel de mostrar a verdade e fortalecer as estruturas sociais.
A idéia de Sociedade da Informação sempre foi tida como condutor para a globalização da sociedade pelo neoliberalismo. A grande ironia se encontra nesta questão, pois “naquilo que o liberalismo se apropriou e tornou a bandeira número um de seu modelo de modernização” é hoje um meio de manifestar a oposição ao mesmo neoliberalismo, intensificada pelas novas tecnologias de comunicação e informação digitais. Uma campanha intitulada CRIS (Communication Rights in the Information Society) – direito à comunicação na sociedade da informação – vai além das questões de infra-estrutura, visa a valorização dos direitos humanos, propõe práticas comunicacionais latino-americanas de acesso, capacitação para o uso, educação. Esse é o foco do problema, pois, conforme análise de Lacerda, “há pessoas ou grupos excluídos que - por mais esforços que haja por políticas públicas de acesso às tecnologias digitais de comunicação – jamais seriam capazes de aprender, de se apropriar dessas tecnologias.” O estímulo ao acesso à tecnologia (que produz oportunidade comum a todos) deve coexistir com ações de cidadania que possibilitem a apropriação transformadora desses meios, saber o que fazer com o que se aprendeu, promover diversidade de conteúdos, produção de conhecimento.
É explícita a necessidade de um projeto de comunicação que priorize as apropriações sociais na tecnologia digital - que não se limita à internet, mas envolve a TV, o rádio, o cinema e qualquer outro meio que possa convergir para a digitalização. Mas aí já são outros debates... A “sociedade da informação” tem que redefinir suas formas de comunicação já estabelecidas nas redes a fim de que se sua real função seja potencializada e enriquecida com o uso de toda a comunidade, passando a ser uma “sociedade na informação”.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LACERDA, Juciano de Sousa. A comunicação digital e os desequilíbrios e esperanças em torno da definição de uma Sociedade da Informação: experiência latino-americana. http://www.bocc.ubi.pt/pag/lacerda-juciano-comunicacao-digital.pdf
Um modo de interagir, mediar, provocar mudanças nas relações entre os indivíduos é o que caracterizaria as redes de solidariedade digital. Também uma nova maneira de pensar e atuar no ciberespaço, gerando contribuições de uso social e “uma redefinição dos modos de comunicação já culturalmente estabelecidos na rede”, como define Lacerda. Mas será que fazemos parte de uma geração preparada a assumir outra postura na web? O cenário é negativo... A internet se constituiu como reforço do mercado capitalista, das fusões entre corporações da mídia de massa, ao passo que também serve para veicular informações de ideologias populares. Onde encontrar o alicerce dessa balança? O jornalismo pode ser uma opção. No balanço entre as visões mercadológica e social da convergência midiática e da comunicação digital (que inclui a atividade jornalística), o elemento transformador poderá ser o próprio jornalismo, com foco nas contribuições de uso social.
As novas tecnologias da informação e as contribuições da América Latina para a emergência da Sociedade da Informação são temas de estudo do conceituado pesquisador Lacerda, que ressalta “a relação entre os usos econômicos e sociais das tecnologias, seus desequilíbrios e tensões”. Prova da contradição é a inversão de valores, já observada pelo estudioso Jesús Martín-Barbero, citado por Lacerda: a sociedade de mercado é posta como requisito de entrada à Sociedade da Informação, de maneira que a racionalidade da modernização neoliberal substitui os projetos de emancipação social pelas lógicas de uma competitividade cujas regras já não são postas pelo Estado, mas pelo mercado, convertido em princípio organizador da sociedade em seu conjunto. É insensato, mas está funcionando desta forma. Uma família de baixa renda em qualquer canto do Brasil, que mal tem como se alimentar dignamente (sem falar da educação, do trabalho, da moradia,...), está a léguas de distância em usufruir a tecnologia digital. O nosso país privilegia o acesso individual (indo na direção dos grandes provedores de conteúdo que conhecemos bem), apresentando mais um atraso. E ainda se gaba pela condição de possuir o maior crescimento de internautas do continente! Como ter orgulho de uma cultura de universalização da informática atrasada em termos de cidadania? Menos de 18% da população brasileira teria acesso à internet, de acordo com o consórcio IBGE/Fundação Getúlio Vargas de 2005. Isso representa, em números, 147.396.185 excluídos. Neste final de 2007, esses números se alteraram, mas continua expressiva a grande exclusão digital no Brasil.
Saindo do individual para o coletivo, poderiam ser adotadas políticas públicas para experiências coletivas. É isso mesmo, não tem como estimular a aquisição de um computador individual num lar que se mantém com um salário mínimo. Por isso as lan houses caíram no gosto popular do brasileiro, apesar de cobrarem em média dois reais por uma hora de acesso à rede. O nosso vizinho Peru dá o exemplo dos Telecentros ou Cabinas Públicas de acesso à internet, onde a maioria dos usuários se conectam à rede desta forma, por um valor bem mais baixo do que existe aqui com as lan houses – em muitos lugares esse acesso é gratuito. Na Bolívia também é assim, com as empresas populares de internet. Poderíamos trabalhar com parcerias entre associações, ONGs, empresas com responsabilidade social, como acontece no Peru. Lá, outro exemplo de luta pela democratização e o direito à informação foi a experiência da Coordenadoria Nacional de Rádios (CNR) na luta contra a ditadura de Alberto Fujimori. A CNR utilizou a internet para instigar o povo a reagir, se mobilizar. Todos os dias eram colocados na rede notícias, comentários, entrevistas, informação livre, articulando lideranças e pessoas por meio da comunicação digital, com ampla repercussão. Sem dúvida, um jornalismo comprometido com seu verdadeiro papel de mostrar a verdade e fortalecer as estruturas sociais.
A idéia de Sociedade da Informação sempre foi tida como condutor para a globalização da sociedade pelo neoliberalismo. A grande ironia se encontra nesta questão, pois “naquilo que o liberalismo se apropriou e tornou a bandeira número um de seu modelo de modernização” é hoje um meio de manifestar a oposição ao mesmo neoliberalismo, intensificada pelas novas tecnologias de comunicação e informação digitais. Uma campanha intitulada CRIS (Communication Rights in the Information Society) – direito à comunicação na sociedade da informação – vai além das questões de infra-estrutura, visa a valorização dos direitos humanos, propõe práticas comunicacionais latino-americanas de acesso, capacitação para o uso, educação. Esse é o foco do problema, pois, conforme análise de Lacerda, “há pessoas ou grupos excluídos que - por mais esforços que haja por políticas públicas de acesso às tecnologias digitais de comunicação – jamais seriam capazes de aprender, de se apropriar dessas tecnologias.” O estímulo ao acesso à tecnologia (que produz oportunidade comum a todos) deve coexistir com ações de cidadania que possibilitem a apropriação transformadora desses meios, saber o que fazer com o que se aprendeu, promover diversidade de conteúdos, produção de conhecimento.
É explícita a necessidade de um projeto de comunicação que priorize as apropriações sociais na tecnologia digital - que não se limita à internet, mas envolve a TV, o rádio, o cinema e qualquer outro meio que possa convergir para a digitalização. Mas aí já são outros debates... A “sociedade da informação” tem que redefinir suas formas de comunicação já estabelecidas nas redes a fim de que se sua real função seja potencializada e enriquecida com o uso de toda a comunidade, passando a ser uma “sociedade na informação”.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
8 comentários:
Olá, Pâmela, que surpresa a minha encontrar aqui um comentário bem interessante sobre meu artigo. Gostaria de estabelecer um intercâmbio de idéias, pois a área de pesquisa me interessa. Abraços, Juciano Lacerda.
Me sinto honrada e muito feliz com com o seu comentário, Juciano! Com isso, comecei a "gestação" do blog com o pé direito. Rsss. (Mal comecei a desenvolvê-lo e já tive esse incentivo... Fiquei muito feliz!)
Vamos sim estabelecer um intercâmbio e desde já me coloco à disposição.
Ah! Parabéns pela dedicação ao seu trabalho! Podemos medir a grandeza de um homem pelo tamanho de sua obra.
Um grande abraço.
A rede tem essa possibilidade. A gente se acha, encontra coisas e faz coisas interessantes também. Pamela estou feliz em ter contribuido para este processo. Passo para seu email algumas considerações... e que bom que o professor Juciano entrou no contexto...muito bom isso.
Abs,
Pamela, meu email eh juciano@ielusc.br entre em contato que manteremos o debate. Abracos, Juciano
olha o que encontrei, cheguei a achar no inicio que era seu texto noutro blog. http://semcolirio.blogspot.com/2007/10/comunicao-digital-e-os-desequilbrios-e.html
Juciano, vc poder encontrar algumas dezenas de textos sobre a sua publicação, por dois motivos: o tema é de grande relevância contemporânea; a professora de Jornalismno digital passou um trabalho que é o de fazer um comentário, uma espécie de resenha, sobre o seu texto. Este link é de um blog de alguém da minha turma do oitavo semestre de jornalismo que não quis se identificar, não sei de quem é... Mas não é cópia não, o trabalho é que é o mesmo. ;) Vc é bem atenado, Rsss.
Ah! Vou entrar em contato sim..
Teresa, vc contribuiu muito com esse processo, sim. Agora nós estamos no caminho da "completude" com essa nova ferramenta. :)
Obrigado por Blog intiresny
Postar um comentário